O urso
panda é um animal muito simpático. Apesar de grandalhão, é dócil e brincalhão.
Se receber folhas e brotos de bambu em quantidade suficiente para continuar
levando sua vida tranquila de panda, dará milhares de cambalhotas ao longo da
existência e será sempre afetuoso com as pessoas que lhe são próximas.
Existem
hoje apenas 1600 pandas. Por estar ameaçado de extinção e ser essa simpatia de
criatura, o panda é o símbolo mundial da luta contra a extinção dos animais. Eu vejo no panda uma
simbologia mais ampla e universal, o que me levou, nesse período natalino, a compartilhar
com vocês minhas boas impressões sobre o ser-panda.
Em
primeiro lugar, acredito que todo ser humano é, antes de tudo, um panda. Se
conhecesse os pandas, Jean Jacques Rousseau teria dito que os seres humanos
nascem pandas e a sociedade os corrompe. Explico as metáforas. Independentemente
da época e da forma como a sociedade se organiza, o ser humano não precisa de
muita coisa para ser feliz. Se dispuser dos recursos e das possibilidades que
permitam levar uma vida sem preocupações, seja a comida caseira, mesmo
simplesinha, diariamente à mesa, seja a apreciação de uma bela obra de arte,
seja uma noite de amor sob um teto aconchegante, o ser humano pode ser feliz,
sem sufocantes ambições ou terríveis restrições (econômicas, sexuais, etc.).
Mas... no meio do caminho tem uma pedra; ou várias pedras.
As
pedras: tudo o que aliena o ser humano, seja a exploração no trabalho, a
demagogia e o cinismo da política burguesa, a publicidade industrial, a religião,
a edição manipuladora da grande mídia, a repressão sexual, além das várias
formas de violência e das artimanhas que não nos permitem viver de maneira
digna e plena. Não tenho dúvida de que o ano de 2015 ficará marcado como um dos
mais cruéis para a eliminação da nossa essência panda.
Somos
impedidos de levar uma vida simples como a dos pandas: saciando nossas fomes e,
mesmo crescidos, exercitando nossa essência lúdica, eternas crianças que
dispensam o entendimento da física da cambalhota, mas que só querem bolar ao
acaso momentâneo, sem preocupações futuras.
Talvez
venha daí, das sutis – embora misteriosas – semelhanças entre a nossa vida e a dos
pandas, toda a simpatia que nós, humanos, temos pelo animal-símbolo da luta
contra a extinção.
Motivo a mais pelo qual precisamos urgentemente salvar os pandas.
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