quinta-feira, 26 de maio de 2016

Morreu o percussionista, cantor e compositor Papete

Morreu na madrugada desta quinta-feira (26), aos 68 anos, o percussionista, cantor e compositor José de Ribamar Viana, o ‘Papete’.
O músico maranhense não resistiu ao câncer na próstata diagnosticado no início do ano. Papete estava internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
O corpo do músico deve chegar a São Luís na madrugada desta sexta-feira (27). O velório tem início às 6h, na Casa do Maranhão, região central da cidade. O corpo de Papete será cremado no fim da tarde.
Nascido na cidade de Bacabal, no interior do Maranhão, Papete foi um dos principais divulgadores e guardiões da cultura popular de seu estado.
Pesquisador dos ritmos do bumba-meu-boi, do tambor-de-crioula, do tambor-de-mina e de outras manifestações culturais do seu Estado, ligadas às culturas indígena, africana e ibérica. Papete conseguiu que estas manifestações chegassem ao resto do país a partir da década de 1970 quando se transferiu para São Paulo.
Biografia
Trabalhou como percussionista em gravações de artistas como Toquinho e Wanderlei Cardoso. Em 1972, se transformou em diretor artístico da gravadora ‘Marcus Pereira’ Ponde gravou seus três primeiros LPs, entre eles o hoje clássico “Papete, berimbau e percussão”
Em 1975, participou do Festival Abertura (TV Globo). Gravou, com a cantora Ornela, o disco “Uomini”, premiado, em 1977, como Disco do Ano. Por esse trabalho, foi apontado pela critica italiana como o melhor percussionista do mundo. Em 1978 gravou seu disco mais célebre, Bandeira de Aço. Entre 1979 e 1981, atuou como músico em shows de Toquinho e Vinícius de Moraes.
De 1982 a 1992, acompanhou Toquinho em 482 shows, em turnê por 18 países. Foi considerado pela Apca como o melhor percussionista brasileiro nos anos de 1983, 1984 e 1985.
A partir de 1990, passou a apresentar-se pelo Brasil com uma banda própria, interpretando músicas do Maranhão. Nessa época, começou a se dedicar à pesquisa, registro e divulgação das obras de compositores maranhenses.
Papete também era engenheiro ambiental e se dedicava a ser uma voz na defesa do meio ambiente no Maranhão e no Nordeste.
O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) homenageou o artista e destacou o trabalho de Papete em sua página no twitter: “Minhas homenagens ao querido cantor e compositor maranhense Papete, que nos legou uma grande e imortal obra”,
Ao longo de sua carreira artística, atuou em shows e gravações com Rosinha de Valença, Marília Medalha, Hermeto Pascoal, Osvaldinho da Cuíca, Toquinho e Vinicius, Benito de Paula, Inezita Barroso, Renato Teixeira, Almir Sater, César Camargo Mariano, Rita Lee, entre outros.
http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/musica/musico-maranhense-papete-morre-aos-68-anos-0bwwucm1nuz40i8cxe7ij9fk9

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Fogo-pagô no quintal









Coisas estranhas têm acontecido em nosso país. Deputados e senadores afastaram a presidente da república (impeachment!). Segundo esses políticos, a presidente teria cometido crime de responsabilidade, mesmo ela não tendo se envolvido em corrupção. O vice-presidente assumiu e formou um governo composto por – adivinhe? – políticos acusados de corrupção. A principal notícia de ontem foi uma gravação em que o principal ministro do “novo” governo revela que o impeachment não foi em função de nenhum crime de responsabilidade, mas para montar um governo com o vice-presidente e blindar os corruptos. Falou-se que havia (há) um golpe em curso, mas algumas pessoas preferiram acreditar no apresentador do telejornal e no juiz cuja pose em intocável terno preto nos lembra Mussolini e o fascismo.
Como muitos brasileiros, já acordo pensando nos estranhos acontecimentos que estamos vivendo. Sento-me para tomar café e minhas divagações são repentinamente interrompidas por um som que se repete: fogo pagô, fogo pagô, fogo pagô. Levanto-me e vou até o quintal. Fogo pagô, fogo pagô, fogo pagô, continua aquela linda música, que desde a infância não ouvia. Chamo toda a família para o quintal; caras apreensivas.
- Sabem o que acabo de descobrir? Nós temos uma fogo-pagô no quintal.
- O quê?
- Uma rolinha fogo-pagô. Escutem.
E, como se tivesse me ouvido e me obedecesse, a fogo-pagô repete o seu canto: fogo pagô, fogo pagô, fogo pagô...
Convoco todos a descobrir onde o passarinho se esconde. Começa a procura, que não demora. A fogo-pagô está no alto do pé de goiaba. Com a nossa aproximação, a ave silencia. Mas aí somos nós que permanecemos quietos por uns minutos, e a fogo-pagô volta a cantar. Para nossa surpresa, a “nossa” fogo-pagô canta em dupla: outra rolinha fogo-pagô responde do quintal vizinho. Escutamos. Elas dialogam entre os quintais. Mexo-me para tentar ver melhor a fogo-pagô – então ela voa para o quintal vizinho.
Entramos.
Estou indo para o trabalho. Antes de sair, volto a ouvir: fogo pagô, fogo pagô, fogo pagô... Ah se pudesse levá-la comigo! Como não posso, resta me confortar com a ideia de que amanhã de manhã ouvirei de novo o seu canto e de novo me encantarei, como se fosse a primeira vez.
Que bom seria se pudesse passar o dia a ver e ouvir os passarinhos cantadores... Mas sou logo afetado pelos estranhos acontecimentos relatados no início da crônica: não posso alienar-me da realidade do país. Tenho que continuar denunciando os homens sórdidos que mentem, manipulam, roubam e que podem exterminar florestas e vidas e aniquilar as aves que cantam e os homens e as mulheres que ainda se encantam.