Pio XII, uma cidade sem memória

Casarão do Coronel Pedro Gonçalves; hoje, não existe mais...

O município de Pio XII completou este ano meio século de existência – mas não parece... A data passou completamente ignorada pelas “autoridades”: nem a prefeitura de Pio XII nem a Câmara de Vereadores da cidade lembraram do cinquentenário da cidade.
Pio XII tornou-se município com a Lei estadual nº 1730, de 26-01-1959. Antes da lei, o território que abriga o município de Pio XII constituía o distrito de Mata Boi, pertencente ao município de Vitória do Mearim.
50 anos atrás ainda não era a família Sarney que dominava a cena política no Maranhão: uma outra oligarquia comandava o estado, a oligarquia dirigida pelo senador Vitorino Freire. O surgimento de Pio XII, bem como de outros municípios maranhenses, em fins dos anos 50 do século XX, fazia parte da política de dividir o bolo para apaziguar as divergências regionais e garantir a supremacia de Vitorino e seus aliados. Sete anos antes de Pio XII tornar-se município, por exemplo, Jejuí, também distrito de Vitória do Mearim, passa a município com o nome de Lago da Pedra.
A transformação do povoado Mata Boi em município teve o objetivo de pacificar os conflitos locais entre Pedro José Lopes Gonçalves e seus adversários e, ao mesmo tempo, ampliar o domínio de Vitorino Freire. Acontece que Pedro Gonçalves, que futuramente seria conhecido como o Coronel Pedro Gonçalves e o primeiro prefeito de Pio XII, era aliado do senador Vitorino e do governador do Maranhão, Matos Carvalho. Por esta razão, foi “contemplado” com a área do outrora distrito Mata Boi, que ao se transformar em município, em janeiro de 1959, ganhou o nome do papa anti-semita Pio XII, falecido três meses antes, em outubro de 1958.
A sede do município de Pio XII passou a ser o povoado Satubinha. Porém, quase vinte anos depois, em 04-10-1977, a Lei Estadual nº 3.899 transferiu a sede do município, de Satubinha para o distrito de Andirobal dos Crentes. A mudança teve como razão a dificuldade de acesso a Satubinha, enquanto o Andirobal possuía uma fácil localização, estabelecido às margens da BR 316.
Em conversa com o responsável por esta mudança, o ex-prefeito Raimundo Nonato Jansen Veloso, o Veloso, ele declarou ao Notícias de Pio XII, que aquela fora sua primeira medida como prefeito e que a decisão não representava uma simples mudança de sede, mas a criação de um novo município. Lembrou também que o jurista e deputado Sálvio Dino (pai do deputado Flávio Dino) questionou à época a mudança. Apesar do desejo pessoal de Veloso, de criar um novo município, a lei estadual 3.899 consiste realmente em um ato de transferência, que mudou a sede do município de Pio XII, do distrito de Satubinha (hoje também município) para o distrito de Andirobal dos Crentes.
Um município que não preserva sua história
A prefeitura de Pio XII não investe um único centavo na conservação e recuperação do patrimônio histórico, artístico e arqueológico da cidade. Assim, o cinquentenário de Pio XII caiu no esquecimento. Talvez seja muito vergonhoso para as oligarquias locais reconhecer que se revezam no poder há cinco décadas, tratando o dinheiro e os bens públicos como propriedade privada, enquanto a maioria da população da cidade padece na pobreza. E, talvez por isto, queiram esconder essa triste história: o que se fez por Pio XII durante seu meio século de existência?
Uma campanha em defesa do patrimônio histórico, artístico e arqueológico de Pio XII
O Notícias começa aqui uma campanha para digitalização de arquivos pessoais que registram a história de Pio XII. Os leitores podem contribuir com fotos e textos que resgatem esses cinquenta anos de história, enviando-os para o e-mail escrevendoahistoriadepioxii@gmail.com ou postando seus comentários no blog.