Na
última sexta-feira, 19, os vereadores de Pio XII decidiram anular a sessão
realizada na noite da última quarta, 17, que aprovou o texto integral do Plano Municipal de Educação (PME) de Pio
XII.
Na
sessão do dia 17, todos os dez vereadores que estavam presentes enfatizaram a
importância do Plano, composto por 20 metas e 258 estratégias. Apenas o
presidente da Câmara, vereador Hilquias, fez uma ressalva sobre a estratégia
7.5. Contudo, os demais vereadores não
concordaram com o ponto de vista do presidente da Câmara e o documento foi
aprovado por todos os parlamentares, sem nenhuma modificação.
No entanto, surpreendentemente, dois
dias depois, nova sessão é realizada e – pasmem – a sessão anterior é anulada. Curiosamente, antes da sessão de sexta
acontecer, já circulavam convites pela rede social WhatsApp, em que se
anunciava previamente a anulação da sessão da quarta, sem que os vereadores
sequer tivessem se reunido. Para essa nova sessão, foram convidados
pastores evangélicos e membros da Renovação Carismática Católica. No entanto,
não foi convidado nenhum representante da Secretaria Municipal de Educação ou
da comissão responsável pela elaboração do Plano Municipal de Educação.
O presidente da Câmara pôs novamente
em discussão questões levantadas pela estratégia 7.5. Porém, o debate ocorrido pecou
por três motivos: 1. a apresentação de um único ponto de vista: o de um
segmento religioso que vez por outra expressa-se pela intolerância e o ódio, principalmente contra homossexuais e religiões de origem africana; 2. a ausência
de opiniões que mostrassem a relação entre educação, direitos humanos e Estado laico;
3. e, por último, a pressa com que o debate foi feito; o que resultou em equívocos
absurdos.
Ao longo de todo o percurso de
constituição do PME, a Secretaria de Educação de Pio XII, bem como a comissão
de elaboração do plano, apresentaram o texto-base do Plano Municipal de Educação
à população, submetendo-o à discussão franca e democrática, com a possibilidade
de as pessoas apresentarem novas metas e estratégias ou modificações nas já
existentes, em vários momentos: nas reuniões da comissão responsável pela
elaboração do plano (que tem o vereador Claudinho como um dos seus
membros), nas reuniões técnicas da Secretaria de Educação, nos três
dias do “PME na Escola” (28, 29 e 30 de abril), com debates nas escolas da zona
rural e da zona urbana, na Conferência
Municipal de Educação, nos dias 05 e 06 de maio (de cujos debates nenhum vereador
participou, embora tenham sido convidados), nos trinta dias em que o
plano ficou disponível para a consulta pública na Internet e na secretaria de
educação (de 06/05 a 06/06) e, por último, na plenária para a definição do
documento final (03/06), da qual apenas a vereadora Patrícia participou. Sem dúvida,
em Pio XII, nenhum outro projeto de lei jamais foi submetido a um processo tão
transparente e democrático de discussões.
Mesmo não tendo participado de
nenhuma das reuniões para as quais foi convidado, o vereador Hilquias recebeu uma
cópia do documento-base do PME no dia 16 de maio. Ou seja, na sessão do dia 17
de junho, já fazia um mês que o presidente dispunha de uma cópia da versão
preliminar do plano. Além disso, o presidente
da Câmara foi orientado pela Secretaria de Educação a convocar uma audiência pública
para discutir o PME, muito antes de o plano ser encaminhado à votação. A
aprovação do PME poderia ter sido feita através de um debate amplo, em mais de
uma sessão, já que o prazo para a aprovação da lei é 25 de junho. Contudo, nem
o presidente da Câmara nem qualquer um dos vereadores propôs esse
encaminhamento.
O que torna surreal a situação é que
os mesmos vereadores que concordaram com a votação do PME sem modificações na quarta, descobriram, na sexta, que a sessão anterior não tinha
validade e que o plano precisava ser modificado. É vergonhosa a forma como agiram
os vereadores que anularam a sessão anterior – não custa repetir: sessão da qual
participaram e na qual aprovaram por unanimidade um projeto de lei – e,
portanto, anular aquela sessão do dia 17 constitui uma manobra ilegal, antidemocrática e
que desrespeita o Estado de Direito.
Em suas opiniões, confusas e
equivocadas, os vereadores demonstraram não apenas desconhecer o Plano
Municipal de Educação, mas também o Plano
Estadual de Educação, o Plano
Nacional de Educação em Direitos Humanos e as principais resoluções da Organização das Nações Unidas sobre as pessoas e segmentos sociais historicamente excluídos e
discriminados. A questão do respeito à diversidade – que foi alvo da ignorância
dos vereadores – está presente no Plano Estadual de Educação.
É preocupante invalidar uma sessão legítima
e democrática do Poder Legislativo e aprovar uma emenda que expressa a
intolerância de alguns. E o pior: como se fosse tudo muito natural.
De forma semelhante, nasceu o
Nazismo.
Foto: João Gabriel Filho - Blog Mearimnet. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário